terça-feira, 7 de abril de 2009

Testemunhos Reais


Apresentamos de seguida dois testemunhos* de famílias que relatam a luta pela educação inclusiva de deficientes mentais.


  1. Maria Figueiredo, mãe da Maria, com oito anos, com trissomia 21

Maria Figueiredo chegou a pensar que a sua segunda filha tinha morrido. No hospital ninguém lhe dizia nada, nem médicos, nem marido. Só muitas horas depois do parto, já numa aflição crescente, Maria foi informada e pode respirar de alívio: "A Micas tinha Síndrome de Down mas pensei: graças a Deus está viva."


. Na primeira vacina, a enfermeira exclamou: «Mas ela é um bocadinho mongolóide!». «Um bocadinho? É toda!», respondeu-lhe. «Esta atitude, vinda de uma enfermeira, é inacreditável».
Desde logo, a questão do acompanhamento. Aos dois meses a Maria começou a fazer natação e, mais tarde, a ser acompanhada pelo CEACF (Centro de Estudos de Apoio à Criança e à Família), um serviço estatal apoiado pela Segurança Social de Lisboa e Vale do Tejo.


.Quando chegou a altura da escola inscreveu as duas filhas num colégio. A matrícula foi recusada. Aceitou o facto como uma incapacidade de resposta da própria escola em lidar com uma criança diferente. Acabou por inscrevê-la num Jardim de Infância público: «Não só aceitaram logo, como diligenciaram as condições para haver uma educadora de ensino especial. Nunca a discriminaram. Antes, coordenavam-se com a terapeuta da fala e seguiam um programa de estimulação com actividades próprias para a Maria. A professora chegou a vir cá a casa para me ensinar a trabalhar com ela».


.Com a entrada para a Primária, Maria acompanhou a irmã e os meninos da sua aula para a nova escola. Mas «Os colegas da Micas, que tinham vindo da outra escola, ficaram juntos. A minha filha e outra menina, também com trissomia 21, tinham sido colocadas noutra sala. Fartei-me de refilar.»


.Mas manteve-a na escola. Apesar de não estar contente com a professora, apesar de só haver uma professora de ensino especial para a escola inteira, apesar da discriminação. Razão? A mãe justifica: «Ela gosta muito dos colegas, está ao pé dos irmãos (entretanto Maria teve outro filho), tem o ATL ali ao lado, a terapeuta da fala também está muito próxima. Está apoiada por muita gente que conhece e com quem se sente muito bem». Maria ainda não sabe ler nem contar e, na escola, não está a ser acompanhada como deveria. A mãe não se mostra preocupada, porque ela tem um enquadramento afectivo por agora prioritário para o seu bem-estar.

2. Maria Amélia, mãe de David, com 14 anos, com atraso grande ao nível cognitivo

.Quando, na maternidade, puseram o David nos braços de Maria Amélia, ela não queria acreditar que aquele fosse o seu filho. Recusava-se a aceitar como seu aquele bebé de cara comprida, corpo mole, parado. Em vão tentou que o médico lhe dissesse o que se passava.


.Aos onze meses, David não se aguentava em pé e novamente nada lhe disseram.
.Maria Amélia e o marido correram tudo, da medicina tradicional à alternativa, apesar dos seus parcos recursos económicos.


.Estes pais mentalizaram-se que tinham um filho diferente, mas, ainda assim, iria crescer com outros meninos. Por isso, colocá-lo no ensino especial foi questão que não se pôs. Foi matriculado numa escola pública e os relatórios médicos acompanhavam-no, requisitando uma professora de ensino especial. Nunca foi rejeitado na escola, onde cresceu sempre aceite pelos outros. Este menino superou a sua deficiência motora. Em casa, ensinaram-no a vestir-se sozinho, a tratar das suas coisas, a aprender as horas, a nadar, a andar de bicicleta.

A Maria continuou com os seus estudos numa escola regular, enquanto que o David vai para uma escola especial pois a sua escola não tinha "condições para o atender".

Estes casos são apenas um exemplo daquilo que acontece no nosso país. É triste mas acontece com mais frequência do que se pensa. Cabe não só aos pais mas a todos nós a luta por uma educação inclusiva, pois a educação é um direito para todas as crianças.

Partilhem connosco as vossas opiniões e se tiverem algum testemunho por favor divulguem =) .

*Testemunhos retirados do site: http://www.malhatlantica.pt/ecae-cm/AnaMaria.htm#_ftn1